O distrito de Chiúre, no sul da província de Cabo Delgado, enfrenta uma nova crise educacional após ataques terroristas forçarem o encerramento de 87 escolas. A violência armada, que já provocou deslocamentos em massa, agora afeta diretamente o sistema de ensino e ameaça comprometer o futuro de milhares de crianças.
Mais de 48 mil alunos sem aulas
Dados preliminares indicam que mais de 48 mil alunos foram afetados por esta paralisação repentina. Sem aulas, livros ou acesso a professores, essas crianças encontram-se completamente fora do processo de aprendizagem. O impacto é devastador, especialmente para alunos em fase de transição entre ciclos escolares.
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As comunidades afectadas encontram-se em pânico. Muitos pais abandonaram as aldeias com os filhos, deixando tudo para trás. A prioridade tem sido a sobrevivência, e a educação tornou-se uma preocupação secundária para centenas de famílias que fugiram da violência.
Professores em situação de risco
Além dos alunos, cerca de 490 professores também se encontram impossibilitados de continuar com o trabalho. Alguns foram deslocados com as suas famílias, enquanto outros aguardam instruções das autoridades provinciais. A situação cria um vazio preocupante no sector da educação básica em Chiúre.
Rachid Sualé, chefe do Departamento Pedagógico, Gestão e Garantia da Qualidade na Direção Provincial da Educação, confirmou que o governo está a monitorar de perto a situação. “Estamos a identificar as crianças que não conseguem fazer os testes trimestrais, para ver como minimizar os prejuízos”, declarou.
Testes comprometidos pela insegurança
Os testes trimestrais, fundamentais para avaliar o desempenho escolar e promover os alunos, tornaram-se inviáveis em várias localidades. A insegurança impede a deslocação dos alunos até às escolas e dificulta a logística para qualquer alternativa, como exames em centros provisórios.
Segundo Sualé, o levantamento das crianças afetadas está a ser feito em estreita colaboração com as direções escolares e os comités locais. A ideia é permitir que, assim que as condições melhorem, as crianças possam retomar os estudos com o mínimo de atraso possível.
Comunidades escolares abandonadas
Muitas das infraestruturas escolares estão completamente abandonadas. Salas vandalizadas, materiais escolares destruídos ou saqueados, e edifícios transformados em refúgios para famílias em fuga. Esta realidade transforma a missão de restabelecer o sistema educativo num enorme desafio.
De acordo com organizações que trabalham no terreno, algumas escolas foram atacadas diretamente pelos grupos armados. Ainda que não haja confirmação oficial de mortos entre estudantes ou professores, o pânico gerado pelas incursões forçou o êxodo em massa.
Governo promete reposição das aulas
As autoridades prometeram criar condições para a reposição das aulas assim que for possível. No entanto, sem garantias de segurança, qualquer plano de retoma continua no papel. Enquanto isso, a contagem de crianças fora do sistema continua a crescer.
A Direção Provincial da Educação estuda a criação de centros temporários de ensino em zonas mais seguras. Essa solução exigirá mobilização de recursos, coordenação com a proteção civil e envolvimento direto dos parceiros de cooperação internacional.
Ataques voltam a paralisar Cabo Delgado
Os ataques em Chiúre fazem parte de uma nova vaga de violência que se intensificou nas últimas semanas. Embora o governo tenha registado avanços no combate ao terrorismo, a realidade em algumas zonas mostra que a paz ainda está longe de ser uma realidade duradoura.
Analistas alertam que o impacto sobre a educação poderá ser profundo e de longo prazo. Crianças afastadas da escola tornam-se mais vulneráveis a aliciamentos, exploração e até ao recrutamento por grupos armados, algo que já foi documentado em outras zonas afetadas.
Futuro de uma geração em risco
O encerramento das escolas representa mais do que uma pausa nas aulas — significa uma ameaça real ao futuro de toda uma geração. Sem acesso à educação, milhares de crianças ficam presas num ciclo de pobreza e violência, sem perspectivas claras de mudança.
Enquanto as autoridades trabalham sob pressão, as comunidades esperam por soluções concretas. A urgência de garantir segurança, apoio psicossocial e retoma educativa nunca foi tão evidente em Cabo Delgado.