A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) voltou a ameaçar com uma greve, caso o Governo continue a ignorar as suas exigências. O presidente da associação, Anselmo Muchave, fez o alerta durante uma conferência de imprensa realizada em Maputo.
Muchave criticou a comissão governamental que conduz as negociações, alegando que o grupo não cumpre com o papel de mediação. Segundo ele, a equipa tem desvalorizado os profissionais de saúde ao ignorar os apelos feitos desde 2023. “Já apresentámos nossas preocupações, mas o Governo preferiu criar grupos de WhatsApp para tratar de assuntos sérios, como salários e condições de trabalho”, denunciou.
Jogue no Placard e transforme os seus palpites em prémios reais.
A APSUSM entregou uma carta reivindicativa em 2023, exigindo o pagamento de horas extras, compensações por turnos e exclusividade, reenquadramento no regime do SNS e regularização dos salários. Apesar de o Governo ter prometido resolver parte dessas questões, até agora não apresentou qualquer documento formal que comprove esses avanços.
Negociações estagnadas
Na visão de Muchave, a comissão atual está completamente desconectada da realidade dos hospitais. Ele defende a substituição imediata dos representantes do Governo, por considerar que eles não demonstram qualquer compromisso com os profissionais que mantêm o sistema de saúde de pé.
“Eles tratam temas sérios de forma leviana, não produzem atas, não assumem compromissos e ainda usam meios informais para tratar de assuntos institucionais. Isso é inadmissível”, sublinhou.
Consequências para o sistema de saúde
Se a greve avançar, os serviços públicos de saúde podem sofrer um colapso ainda maior. Em várias unidades, os profissionais já enfrentam sobrecarga, falta de recursos e estruturas degradadas. A paralisação colocaria em risco milhares de pacientes em todo o país.
Durante a última greve, em 2023, hospitais funcionaram com serviços mínimos. Muitos utentes perderam consultas e abandonaram tratamentos por falta de alternativas acessíveis. Por isso, a possível retoma da greve preocupa também as associações de pacientes.
Governo em silêncio
Até o momento, o Governo não respondeu publicamente às novas ameaças. Entretanto, fontes do Ministério da Saúde admitem que existe abertura para diálogo, embora não haja garantias de mudanças na equipa negocial. Enquanto isso, a tensão entre os profissionais de saúde e o Executivo aumenta.
Por outro lado, a APSUSM reforça que não procura confronto, mas exige dignidade e respeito. A associação afirma que ainda acredita no diálogo, desde que existam ações concretas e não apenas promessas.
Reivindicações acumuladas
As principais exigências da associação incluem:
- Pagamento de horas extraordinárias e turnos;
- Remuneração por exclusividade e risco;
- Reenquadramento no Sistema Nacional de Saúde;
- Regularização dos salários em atraso;
- Melhoria das condições nas unidades sanitárias.
Além disso, Muchave afirmou que o Executivo tem tratado os trabalhadores da saúde como peças descartáveis. Para ele, essa postura demonstra desrespeito e falta de visão para reestruturar o setor.
Greve como último recurso
Apesar da ameaça, a APSUSM garante que não quer prejudicar o sistema nacional de saúde. No entanto, caso o Governo continue a ignorar as exigências, a greve tornar-se-á inevitável. “Queremos trabalhar, mas também exigimos respeito. Não podemos continuar a operar em silêncio, sem garantias nem dignidade”, concluiu o presidente da associação.